terça-feira, abril 25, 2006

Fátima: a mística existe!

Sem autorização para sair do pelotão – foi sob esta directiva que decorreram mais de 120 km/h, entre Loures e Batalha, da Super-Clássica de Fátima, no último domingo, uma prova com grande tradição, que continua a acentuar a sua mística, devido, acima de tudo, ao fantástico percurso, com final apoteótico. Mas fossem estradas planas, topos ou colinas, a ninguém foi dado mais do que poucos metros de vantagem antes de chegar a subida final para Fátima. Tal como na Clássica de Évora, o grupo assimilou muitíssimo bem que este tipo de voltas requerem uma abordagem «diferente» das tradicionais domingueiras, que o nível de exigência é maior, pois (quase) toda a gente pretende ter desempenho positivo ou quiçá superar-se, para isso treinando com mais rigor, como foi o caso.
Pois bem, esse empenho reflectiu-se no ritmo, que foi vivo desde o início, rapidamente fixando a média acima dos 31 km/h – no final, foi essa a minha. Até à subida do Alto da Serra, as médias parciais nunca baixaram dos 30 km/h, superando, como foi o caso de Alverca-Vila Franca, os 35 km/h. E com a maioria dos elementos do pelotão a dar o seu contributo, embora, compreensivelmente, uns mais que outros.
Nas primeiras dezenas de quilómetros toda a gente parecia estar de sobreaviso, procurando evitar distracções que pudessem causar cortes. Talvez, por isso, a passagem pelo empedrado de Vila Franca (local em que habitualmente sucedem fracções importantes) tenha sido das mais «rijas e compactas» dos últimos tempos. Depois, mesmo sem uma organização férrea no comando do grupo, este foi sempre em bom andamento, nem que fosse só para tirar ideias a quem as tivesse de uma eventual fuga. De resto, os roladores bem o tentaram, principalmente no último terço da prova, no planalto de 35 km que se segue ao Alto da Serra e a descida para a Batalha. A primeira dificuldade da tirada foi, como sempre, o Alto da Serra (2 km a 4,2%). Primeira oportunidade para se começar a abalar a sólida coluna que se vinha mantendo, e também para acentuar desgastes. Para mim, chegara a hora de passar ao trabalho…
Objectivo nº1: meter as pulsações dos mais fortes no «amarelo-alaranjado», sem provocar efeitos catastróficos aos restantes. Penso que bem conseguido. Nota adicional: fiquei surpreendido com a resposta deveras positiva do pelotão, que não cedeu um milímetro, não havendo lugar a poupança de esforços, com a consciência que ficar para trás, com as «trutas» à frente seria sinónimo de um resto de prova penoso. Nesta altura, apenas o Abel se ressentiu, abrigando a que após a subida se refreasse o andamento.
Depois, a longa ligação, praticamente plana, até à Batalha foi tranquila, embora se tenha mantido a máxima de ninguém ter ordem para sair do pelotão. Nem mesmo quando, por vezes, se registaram alguns cortes ligeiros enquanto se esperava pelo Abel e depois pelo Steven, ambos em dificuldades. Nestas ocasiões, mesmo com os roladores a puxarem da artilharia pesada, a «caça» foi profícua e rapidamente se fecharam os espaços. Viu-se o Fantasma (que até aí se mostrara bastante reservado, em nítido resguardo), o Daniel e o Casaínhos passarem pela frente, mas sempre desencorajados pela reacção eficaz do grosso do grupo.
Chegava então a hora da verdade. A ligação entre a Batalha e Fátima. A minha decisão de impor um ritmo forte desde o início da primeira subida estava tomada há muito tempo, principalmente depois de, à excepção do Alto da Serra, não se terem registado situações que tivessem acentuado o desgaste nas principais figuras – por exemplo, ter de perseguir para anular fugas. E segundo: porque tinha ponderado sobre os efeitos pessoais e colaterais, depois de fazer as contas às forças, distâncias e tipo de terreno, expondo-me a contra-ofensivas das principais figuras, nunca subestimando a capacidade.
Por isso, não deixei sequer começar a subida para passar para a frente, e quando a estrada empinou encontrei rapidamente o andamento que mais me convinha. Nesta altura, o pulsómetro deixou de interessar. Após, as primeiras centenas de metros, certifiquei-me de quem me seguia: Freitas e Miguel (naturalmente) e surpresa (!!!) o Vítor Correia. Espantoso! Mais ninguém. E que seria feito do Carlos? A segunda vez que olhei para trás, pouco tempo depois, só restavam os dois co-equipiers. A cerca de 300 metros do alto, forcei um pouco e a respiração do Freitas tornou-se mais ofegante. Deixa cá, experimentá-lo! Dois carretos abaixo, mudança brusca de velocidade e inesperadamente quem pagou a factura foi o Miguel. Nos primeiros metros da descida olhei variadíssimas vezes para trás para ver se era mesmo verdade. Confirmado. Nestes 2,4 km de subida (4,8%) fiz uma média 177 pulsações (22,4 km/h).
A descida (que não é só…) não foi menos intensa (40 km/h e 164 ppm). Tinha de ser assim para manter o Freitas no «vermelho». E quando chegou a primeira rampa da segunda subida, esta mais acentuada (6,5% em 2,3 km), aumentei ligeiramente o andamento e logo após 300/400 metros, depois da passagem pelas casas, o Durão cedeu, abrindo-se rapidamente um fosso entre nós, que, no alto, segundo informações da ardósia do pai do Miguel, já seria de cerca de 1,30 m. Significativo. Nestes 2,3 km fiz uma média de 183 ppm e 17,8 km/h. E nos últimos 8 km (32 km/h) até Fátima esgotei todas as forças que me restavam, mesmo tendo quase a certeza que a vantagem angariada na subida dificilmente a perderia – aliás, ainda ganhei quase 1 minuto.

Destaque ainda para a prestação do Carlos, terceiro, ultrapassando o Miguel, que estava em perda, e para um grupo coeso composto pelo Pina (numa subida muito controlada e num final em grande estilo), Daniel (enormes progressos, inclusive a subir, pois só assim se compreende chegar, por exemplo, com o Zé-Tó (no seu estilo metódico e cerebral, de trás para a frente, controlando sempre o coração e as sensações musculares).
O Casaínhos, que muito trabalho durante toda a volta, pagou o esforço (embora, como reconheceu no final, tenha ficado aquém das suas expectativas), e o Fantasma deu um estoiro monumental ainda no início da primeira subida, a contas com caimbras – provavelmente devido a um início de desidratação pelo excesso de roupa quente que trazia vestido.

Nota final de solidariedade, primeiro para o L-Glutamina (Steven), cuja debilidade física devido a gripe prolongada não lhe permitiu resistir ao esforço, parando perto da Benedita; e segundo para o esforço dos mais veteranos: o Abel, que mais uma vez cumpriu com muita coragem, o todo o percurso; e também o Vítor, um fenómeno da natureza pela força que ainda revela, embora manchando o seu desempenho ao utilizar «ajudas» não regulamentares para terminar a prova. Pagou a factura pela loucura de querer estar à frente no início da primeira subida, onde nem sequer estava gente muito mais jovem e bem preparada, como, por exemplo, o Carlos.
Por falar nele, recordo as previsões do Homem do Talho, que surpreendentemente (para mim) acertou quando disse que um «nacional» se intrometeria entre os «internacionais»: o Carlos. E se fosse mais ambicioso, previsivelmente o atraso de 5 minutos no final seria bem menor. Já tive oportunidade de lhe dizer: porque não experimentar agora um patamar acima? Sem necessariamente seguir com os da frente, mas também não ficar tão… atrás. É possível manter a distâncias para os mais fortes, gerindo convenientemente o esforço, e depois colher eventuais dividendos de alguém que «quebre». De facto, isso aconteceu agora com o Miguel, mas, neste caso, foi uma excepção. Outras oportunidades não irão faltar…

terça-feira, abril 18, 2006

Fátima já fervilha

A Super-Clássica de Fátima, no próximo domingo, já fervilha. Se a meteorologia ajudar, estarão reunidas todas as condições para ser uma jornada de ciclismo memorável.
Primeiro: o percurso, à medida dos roladores mais fortes, mas com um ponto de selectividade nevrálgico instalado estrategicamente nos últimos 15 quilómetros, após 120 km de pedal. Aqui, a seguir à Batalha, jogar-se-ão todos os trunfos, mas só alguns chegarão com forças suficientes para tentarem fazer a diferença. A subida para Fátima não é fácil, mas também não tem dureza extrema. No fundo, são duas subidas… numa: a primeira com quase 3 km e inclinação média inferior a 4% - ou seja, suavezinha, mas capaz de deixar «pendurados» os mais fatigados. Depois desta, há uma descida curta mas acentuada que antecede a ascensão mais complicada, com 3,5 km a mais de 5,5%, ou seja, também não muito dura, mas incluindo cerca de um 1 km acima dos 7%. Aqui sim, em caso de luta acesa, poderão haver diferenças entre os mais fortes. Todavia, a partir do final da subida principal, nos 3,5 km seguintes ainda restam alguns topos exigentes, antes de um falso plano descendente nos derradeiros 4 km.
O ano passado senti-me bem e fiz uma óptima subida, chegando isolado a Fátima – o Nuno Garcia foi quem mais se aproximou mas cedeu após o «gancho», na parte mais íngreme da subida. Na altura, o Miguel estava ainda à procura da boa forma, mas este ano surgirá bastante melhor apesar da paragem forçada por lesão, praticamente na antecâmara dos Lagos de Covadonga, tal como eu e o Freitas. Em relação a este, qualquer semelhança entre o ciclista de 2005 e o de agora é «mera coincidência». Caso resista, na subida final, a todos os ataques como o tem feito esta temporada, terá toda a vantagem à chegada a Fátima. E concerteza contará com a preciosa colaboração do seu co-equipier – e vice-versa. Além dos favoritos, poderão haver «outsiders», como o Carlos, mas ainda está para provar a sua capacidade de enfrentar os momentos de maior «frisson». Assim, vamos ver como correm as coisas, sabendo que a «concorrência» está muitíssimo forte.
Por falar em concorrência, é de prever que o pelotão esteja bastante mais competitivo e homogéneo este ano. Pelo menos, é que deixa antever o cuidado que muitos elementos têm empregue na preparação da tirada. Como referi, na crónica de Belas, acumularam-se quilómetros e trilharam-se caminhos tortuosos nos últimos dias com o objectivo para afinar a forma, mas teremos de aguardar pelos resultados dessa aplicação no treino, embora seja certo que apenas um grupo muito restrito resistirá às acelerações finais. Aqui, certamente, não vai haver surpresas. Mas os dados estão lançados!

domingo, abril 16, 2006

Sensações diferentes em Belas

Entre muitas ausências e sequelas dos excessos da sexta-feira Santa, a Clássica de Belas acabou por se transformar em treino competitivo… e restritivo. Nem mais nem menos. Aliás, a presença inesperada do Hélder foi precisamente ao encontro aos meus objectivos, pois saíra de casa com o propósito de fazer algum trabalho de intensidade e rotação em subida, forçando em quase todas. E ainda mais específico ficou cariz o treino/volta quando quase todo o grupo, em Pêro Pinheiro, decidiu rumar a Loures, por Negrais, abdicando de concluir o traçado como ele está delineado – por Belas. Perante este facto novo, eu, o Freitas e o Hélder decidimos seguir em frente – a bem da honra dos verdadeiramente duros.
Para mim, foi um óptimo teste. Acima de tudo, porque deu, como poucas vezes esta temporada, para aferir sensações e a capacidade de resistir/reagir, seguindo como referência «outro» andamento, neste caso do Hélder – muitíssimo forte. Neste aspecto, o treino foi muito frutuoso. Mas não só. Por várias ocasiões, nomeadamente em Cheleiros e nos difíceis topos entre P. Pinheiro e Belas, o andamento imposto pelo Hélder foi pesado, bastante duro, obrigando-me a seguir a roda. Considerando esta nova ordem de forças, pouco habitual, deu para tirar algumas conclusões importantes. Por exemplo, a falta de referências que tem quem mete o passo à frente nos momentos altamente selectivos. E consequentemente, a vantagem de ir atrás, de poder controlar o ritmo, etc.
Mas obviamente não foi só andar na roda. A partir de Belas (no topo) e até à subida de Caneças, marquei o andamento, para evitar que este baixasse muito. Mas o Hélder tomou a dianteira, voluntariamente (uma maravilha!), logo que se iniciou a subida de Caneças, e já na parte final fiz a primeira mudança de velocidade para sentir o pulso dos meus companheiros – embora tenha sido refreado pelo semáforo vermelho lá no alto. Assim, foi em Montemor que se jogaram os trunfos. O Hélder, sempre confiante na sua força física – e é muita, é verdade! –, entrou em 52 e quis mantê-lo (demasiado optimismo!), o que o colocou antecipadamente no «red line». Quando finalmente meteu a «pequena» já era tarde: estava agora sob pressão e foi só escolher a melhor altura para fazer a aceleração decisiva. Saí bem, em rotação, e com reserva de energia comecei a meter andamentos, todavia, uma súbita mudança do vento forçou-me a tirá-los. Mesmo assim, o espaço aberto – para o Hélder, para o Freitas nem pensar! – foi suficiente para o obrigar a uma perseguição desenfreada na descida.
Não estarei a esquecer-me de alguém: claro, do Freitas! Igual a si próprio. Em excelente forma, imbatível neste terreno, embora sempre com a mesma atitude passiva (mas racional) de seguir sempre a roda certa. É a vantagem de estar lá todos os domingos… E depois na descida fez a diferença… embora com alguns «truques» muito seus!

Por último, ressalvo para o cuidado a todos os títulos excepcional com que está a ser preparada a Super-Clássica da próxima semana, a Fátima. Nos últimos dias, diversos elementos do nosso grupo desdobraram-se em treinos específicos, de longa distância e alguns em subidas selectivas (Montejunto e Cabeço da Rosa), a «solo» ou em secreta companhia, tudo com o objectivo de apurar a forma, escondendo o jogo do «adversário». Aguardemos pelos resultados!

sexta-feira, abril 14, 2006

Para Santarém... de comboio

Foi interessante e proveitosa a longa jornada velocipédica que realizámos ontem, com Santarém como epicentro, num total de 150 km. Super! O pelotão à partida não era extenso (apenas 9 unidades) e apenas um quinteto cumpriu o percurso na íntegra – eu, Freitas, Daniel, Luís e Carlos (da Póvoa). Embora tenham alinhado à partida, o L-Glutamina, ainda a recuperar de uma gripe, ficou no Carregado, e no Cartaxo foi a vez do Miguel, do Carlos (do Barro) e de um outro elemento, darem meia volta às montadas.
Fica para a história o bom andamento (média 31 km/h em Alverca), a organização e coesão no (pequeno) grupo que perdurou até final – antes, também o Carlos e o Miguel tinham contribuído para levar o «comboio» a ritmo de cruzeiro –, num percurso muito pouco acidentado, quase plano, que não provocou grandes desgastes.
A única dificuldade, além da longa distância da tirada, foi a entrada em Santarém, uma subida que, na parte digna desse nome, é mais curta do que pensava (1,1 km), apesar de ter inclinação apreciável (6-7%). Aí deu, naturalmente, para limpar os carburadores (como diz o Fantasma – que falta!), com o Durão Freitas a não ceder um milímetro, confirmando, mais uma vez, a sua excelente forma, depois do susto do último fim-de-semana. Aliás, felizmente parece que tudo não passou do (mau) resultado de uma semana de excessos (de carga). As boas sensações chegaram com o passar dos quilómetros e foi vê-lo de alma nova, que tão pesada tinha amanhecido – e pior ficou quando furou um pneu à entrada de Vila Franca.
Grande tirada a do Daniel, que se resguardou na primeira metade do percurso (até à subida de Santarém – que fica para contar no final desta crónica!), e regresso foi presença assídua e muito colaborante na frente do grupo – inclusive muitas vezes no seu estilo característico, com o Freitas a refrear-lhe sempre o ímpeto. Aliás, assim era recomendável, uma vez que o Carlos (da Póvoa) vinha muito justinho de forças e cedia sempre que a velocidade aumentava. De qualquer modo, também enorme prestação a dele, tal como a do Luís, que está em crescendo de forma.
Por último, deixo então a incidência do dia: a entrada de leão do Daniel na subida de Santarém… com saída de cordeiro.
O nosso homem do martelo andava já há alguns quilómetros intrigado com a chegada da subida de Santarém. E quando esta chegou não fez por menos, entrando de rompante na zona em que a inclinação aumenta (o último km) – segundo disse depois, «para aproveitar a embalagem!» – e tomou a dianteira com o ferro todo metido. De tal forma, que, em 200 metros, abriu um espaço de 10/20 metros para mim e para o Freitas (e até entrámos bem forte na subida), mas 200 metros depois, obviamente, já estava a patinar. E a cerca de 500 metros do alto deu o estouro-mestre. Sem forças, até final perdeu, sem exagero, 200 metros. Justificação: não conhecia a subida. Pois! Disse mais: como não consegue subir em rotação, tem de meter os carretos… mais à direita. No entanto, foi só mais uma «lição» do «curso» que está a tirar, até ver com fantástico aproveitamento. E uma alma do tamanho do mundo… Domingo há mais! Nos «picos» de Belas. Ui, tanta dor!

domingo, abril 09, 2006

Ao ataque na Sra. do Ó

Definitivamente, acabou o tempo de glória dos roladores. Agora mandam os que sobem melhor. Na Clássica de hoje, a subida da Senhora do Ó revelou-se altamente selectiva, proporcionando momentos de grande espectáculo. Desde a Carvoeira, o ritmo foi sempre intenso até Mafra, e depois de uma ligeira recuperação na passagem por Mafra, terminou-se em grande estilo na subida da via rápida até à rotunda da Carapinheira.
Desde Loures, porém, a toada foi moderada, apenas animada pelas iniciativas do inconformado Daniel, que andou quase sempre escapado, e do Samuel, que finalmente mostrou estar em boa forma, liderando quase sempre o pelotão entre Mafra e a Ericeira.
Depois, já se disse, a subida da Sra. do Ó abriu as hostilidades. E começou de forma curiosa: Miguel, Daniel e Carlos entraram ligeiramente destacados, depois de se terem adiantado na Foz do Lisandro, e o Freitas em posição intermédia. (Pareceu-me um pouco atrapalhado, sem a sua referência preferida, já que eu tinha ficado um pouco para trás na descida anterior). Recuperei sem forçar - pois a subida é muito acentuada nos primeiros dois quilómetros -, mas depois de me juntar ao Freitas, decidi acelerar e não parar antes da Carapinheira: a subida tem 6 km e até à Carapinheira são mais três.
A resposta do Freitas foi imediata, resistindo muito bem ao andamento que impus na parte mais difícil da subida, e depois nas diversas rampas, intercaladas, que completam a longa subida até Mafra. Aqui rendo, uma vez mais, homenagem ao espírito de sacrifício do Freitas, um verdadeiro Durão, que senti, por diversos momentos estar no red line, mas resistiu estoicamente. À entrada de Mafra, quando a inclinação baixou, ele ainda tentou demover-me das minhas intenções: «Como é já chega?!…», perguntou. Mas quando lhe disse que só parava na Carapinheira deixou escapar um palavrão daqueles…
Mas a subida teve mais protagonistas. O Miguel e o Carlos, na companhia do Zé-Tó (que foi interceptado a meio da subida e se juntou ao comboio), juntaram-se a nós à saída de Mafra – reconheço que fiquei surpreendido pela recuperação – e abordámos em quinteto a rampa da via rápida até à Carapinheira. Eu voltei a dar o mote, mas o Miguel respondeu muito bem e nos últimos 200 metros «rebentou» com a concorrência, fazendo-me suar as estopinhas para não perder o contacto – ao género do que sucedeu a semana passada em S. Pedro de Sintra. Mais ninguém resistiu, inclusive o seu co-equipier.
A volta acabou aqui… infelizmente. E prometia mais animação. Longa espera (a minha) pelos retardatários, que afinal seguiram em direcção a Alcainça devido ao cansaço; o Miguel continuou para Cheleiros (?) e os que restaram (Luís, Freitas, Daniel e Carlos) foram andando para os topos de Igreja-a-Nova, que acabei por fazer sozinho e em força, juntando-me ao grupo apenas à entrada da Malveira – mas até mais cedo do que esperava…
Finalmente, na Venda do Pinheiro, o Freitas, em dificuldades físicas, seguiu em frente para Loures, mas os outros acompanharam-me na longa descida para Bucelas, realizada em muito bom andamento, com quase toda a gente ao ataque. O Fantasma e o Pina, dois descedores de grande classe, iriam certamente gostar…

Notas de observador

1. Miguel, companheiro, descreve como foi a vossa subida (tua e do Carlos) na Sra. do Ó, cuja recuperação, admito, chegou a surpreender-me. É mais uma prova que estás em crescendo de forma, apesar dos empenos que, presumo, se devem a alguma falta rodagem. A única nuance foi o ligeiro alívio de força que eu e o Freitas fizemos na passagem por Mafra – mesmo assim não se pode considerar que tirámos tudo…

2. Tal como ao Miguel, destaco a excelente prestação do Carlos na Sra. do Ó, outro que está a dar cartas nesta fase – grande subida, sem dúvida! Então que lhe falta para estar ainda mais à frente? Penso que, além das reservas habituais, talvez a rodagem de «alta competição», ou seja, «estofo» para conseguir enfrentar os momentos de grande calor com os mais fortes.

3. O Freitas está bom! Por muito que sofra nas subidas, a sua atitude é fantástica. Nestas coisas das picardias das voltas, é um adversário a bater, mas, talvez por isso a minha estima e reconhecimento das suas capacidades e espírito de sacrifício são ainda maiores – a sua coragem está léguas da minha e eu também não gosto de ficar para trás. Hoje, porém, estava a acusar notoriamente o esforço dos treinos realizados durante a semana, principalmente na sexta-feira. Sei bem o que isso é, como tal aconselho-te a não forçares demasiado, sob o risco de te lesionares – as tuas queixas no extensor do gémeo são sintomas de fadiga devido à acumulação de esforço. Se esticas a corda durante a semana, já não a terás tão forte nas nossas «corridas» de domingo. E podes parti-la. Não esqueças que os Lagos estão à distância de pouco mais de um mês…

4. Há um facto que quero realçar dos picanços na descida para Bucelas, com o Luís (este apenas a tentar resistir), o Carlos e o Daniel, e que fiz questão de comentar com este último: a exposição ao choque e as suas consequências. Ou seja, ambos não se limitaram a seguir na minha roda, principalmente nos topos, lançando inclusive fortes ataques que proporcionaram despiques muito interessantes. Apesar do Carlos e do Luís não terem resistido mais após o topo da Chamboeira, o Daniel recuperou o atraso de cerca de 100 metros para mim no Freixial e não foi de modas, acelerou violentamente no topo do aviário como se acabasse ali - pensei eu. E a verdade é que pensou mesmo. Por isso, no topo do depósito de rações, este mais longo, acabou por pagar a factura – apesar de o ter estimulado a reagir. Mas valeu a pena, para mim e para ele… É assim quando todos se expõem ao desgaste e tentam a sua «sorte». Foi um final em grande estilo. Apesar de, em termos competitivos, talvez não seja a melhor estratégia para enfrentar «adversários» fortes – que o diga o nosso Durão! -, a verdade é que a coisa fica muito mais divertida. Ah! A força deste Daniel é impressionante!

domingo, abril 02, 2006

Sintra fantástica!

A abertura das Clássicas de Primavera, com uma sempre exigente passagem pela Serra de Sintra, foi provavelmente a melhor demonstração de que há memória de aproximação de «valores» entre os elementos mais empenhados e assíduos do grupo Pina Bike. Para alguns, este percurso tinha antecedentes traumatizantes. No início de Dezembro do ano passado, fizera estragos no cabedal de meio mundo, mas que, hoje, tiveram oportunidade de ajustar contas com os estigmas das subidas e alguns inevitáveis empenos. Inclusive os que menos se dão com as inclinações.
É verdade que houve diferenças. Obviamente nas subidas mais difíceis (S. Pedro de Sintra, Azóia e Várzea-Sintra) e também no selectivo final da tirada. Mas foram pouco significativas. E mais importante: ficou a ideia quase unânime que as sensações foram boas e superaram-se as expectativas individuais.
A subida Lourel/S. Pedro de Sintra abriu as hostilidades. O Miguel provou que está a caminho da melhor forma, a menos de mês e meio do início da temporada internacional, e deu o mote, principalmente na parte final da subida, imprimindo um ritmo muito forte. Foi a vez, este ano, em que fui mais intensamente solicitado em subida – mesmo que apenas 200/300 metros – o que é prova que o trepador louco imprevisível está de volta.
O Freitas, sempre resguardado, nunca perdeu terreno. De resto, no seu estilo peculiar, soube sempre levar a água ao seu moinho. Ali, na Azóia e na parte final. A excepção foi a subida da Várzea para Sintra - perguntem-lhe porquê?! Também ele está em grande forma, apontando baterias para o enorme desafio dos Lagos de Covadonga.
Do meu ponto de vista, o seu desempenho foi excelente, e a forma como aproveita a «boleia» nas fases em que teoricamente tem mais dificuldade não se pode censurar. E desta vez não precisou de quaisquer ataques. Resistiu estoicamente nas subidas e nas acelerações dos quilómetros finais e depois foi mais audaz na descida de Montemor, terminando isolado em Loures.
Depois de um treino suicida na sexta-feira, estou satisfeito com minha prestação. Ainda assim, acusei o cansaço, que me impediu de fazer mudanças de ritmo em alta intensidade, em subida, e manter andamentos muito fortes durante muito tempo. Hoje era impossível lançar um ataque de longe. Faltou-me força, essencialmente, quando mais precisava – no topo de Belas, em Caneças e em Montemor – e assim, à excepção da Várzea (e por pouco) nunca consegui distanciar o Freitas, como era meu objectivo. Mas teria sido necessário estar em pleno vigor (quiçá mais!) para o conseguir. Ou admitir essa impossibilidade em voltas com subidas tão curtas.
Aliás, devo reconhecer que a própria subida da Várzea foi bem elucidativa da capacidade do «nosso» Durão – já que foi a única vez que tomou a dianteira (vínhamos a recuperar desde o Cabo da Roca onde esperámos pelo último elemento e se aproveitou para urinar), assumindo as despesas – mais precisamente fê-lo a partir dessa altura. Depois, na Várzea, soube impor um andamento muito rijo desde o início, que me tirou ideias. Posso dizer mais precisamente que, quando ia na roda, tinha a sensação que o andamento não era assim tão forte – ou que já tinha ali passado noutro ritmo -, e que até se mastigava um pouco, mas que também que não conseguiria sair e fazer a diferença. Talvez sintomas da tal fadiga. No entanto, deixá-lo pregado nos últimos 400 metros serviu para fazê-lo beber um pouco do seu próprio veneno.
Outro elemento em grande forma é o Carlos. Fisicamente muito bem (% de gordura baixíssima), com excelentes aptidões de trepador, cedeu apenas em Montemor, quando a «coisa» se decidiu a três, depois do Daniel e do Fantasma não terem resistido às alterações de ritmo em Belas e Caneças. O Daniel teve a expressão que considero mais correcta para definir o rendimento do Carlos. «Ele não acredita nas suas potencialidades!». A questão é certamente mais complexa, mas, na minha opinião (à qual arrogo-me o direito de manter publicamente em segredo), não andará muito longe da verdade. E é provável que a confirmação possa chegar, em breve, quando ele menos esperar…
Enorme destaque também para o Daniel e para o Fantasma (ou será Falcão, pela forma destemida como desce), roladores por excelência, e que experimentaram muito boas sensações em terreno bastante acidentado. Restando esperar que outras figuras importantes, como o ZT e o L-Glutamina, apurem a sua forma, então teremos um pelotão ao nível mais elevado de sempre. Para a semana voltamos ao sobe-e-desce saloio, numa Clássica (da Carvoeira) que deverá ser tão ou mais espectacular que a de hoje.

P.S. A propósito, menção honrosa para a disponibilidade e elevado sentido de camaradagem do L-Glutamina (e depois do Salvador) em ajudarem o ZT, que se encontrava em notórias dificuldades na fase final. E também para o Luís, que tomou a iniciativa de, ainda em Colares, fazer o resto do percurso… no seu passo, «libertando» o pelotão. Também ele faz falta em grande forma. E já agora: o João e o Samuel, que a têm!